Toda vez que surge o assunto “avó” em alguma roda de amigos, me dá até vergonha de ter tanta coisa incrível para falar da minha. Minha avó, mãe da minha mãe, é uma verdadeira artista, da época em que “do it yourself” e “handmade” não eram uma tendência, mas uma realidade nem um pouco valorizada. Ela costurou meus vestidos mais lindos na infância, “pra Giovanna Baby nenhum botar defeito”, teve uma confecção de biquínis (não por coincidência se chamava Ana Morena), pintou quadros, cerâmica, madeira e até sapato ela já fez.
Agora, quando entramos no assunto “comida de vó”, fica até injusto competir. A lista é extensa, e eu fico metida mesmo. Desde o melhor bauru do mundo, servido despretensiosamente nas tardes de quinta, ao bolo de morango com um merengue de um palmo de altura, coisa que “ninguém faz igual”, segundo a própria ( e é verdade!).
Minha avó é aquela pessoa que não vê dificuldade nenhuma em entrar na cozinha e preparar um banquete, seja numa segunda-feira ou numa ceia de Natal. E isso minha mãe puxou dela – não à toa nasceu esse blog.
Na verdade, foi minha vó que reinventou o termo “banquete”, já que no meio de semana é comum almoçar por lá um nhoque de batatas com molho de tomate e um bolo mousse de sobremesa (campeão das encomendas de aniversário). Tudo feito por ela e pelo meu vô, seu parceiro de vida e de fogão.
Nessa família (6 filhos e 13 netos), a comida é muito mais do que uma simples combinação de ingredientes, é o que conta nossas histórias: como aquele leitão com feijão tropeiro do Natal que todo mundo já sabia quem o outro tinha tirado no amigo secreto, ou aquele frango ao molho pardo do Dia das Pais que o os filhos e cunhados brigaram pela moela, teve ainda a torta de limão daquele aniversário que durou tanto que os vizinhos reclamaram do barulho. Mas nada representa melhor a comida de Zilne Know-How quanto aquela empada de frango com catupiry.
É culpa dela que eu não consigo comer empada em nenhum outro lugar: por melhor que seja, nenhuma “chega no chulé” da dela. Seja pela massa, que marca presença sem ser notada como massuda. Seja pelo recheio, saboroso, úmido, mas nem de longe enjoativo. O equilíbrio é tão perfeito que não dá vontade de comer toda a massa e deixar o recheio para o final, ou vice-versa. E é essa receita que compartilho com vocês.
Obs. 1: ao contrário da maioria das nossas receitas, essa não é superfácil de fazer. Mas garanto que se você der uma chance e se arriscar, vai ficar feliz de ter tentado!
Obs. 2: talvez tenha sido a coisa mais difícil da minha vida quantificar uma receita da minha avó! Ficamos, eu e minha mãe, que nem loucas pesando enquanto ela fazia. Qualquer dúvida não deixe de perguntar.
Ingredientes
Para a massa:
-
1+ ½ xícara de farinha de trigo
-
½ xícara de leite
-
100g de manteiga
-
2 gemas para a massa
-
1 gema para pincelar
-
sal
Para o recheio:
-
500g de filé de frango
-
1 cebola pequena picada
-
¼ pimentão (usamos só o amarelo)
-
4 dentes de alho
-
1 punhado de salsinha
-
2 folhas de louro
-
6 colheres de sopa cheias de trigo
-
1 xícara de leite
-
100g catupiry
-
100g creme de leite
-
2 colheres de sopa de óleo
-
sal e pimenta a gosto
Como preparar
Comece pelo recheio:
Na panela de pressão, coloque o óleo e refogue o alho, a cebola. Quando estiverem quase dourados, coloque o pimentão e o frango (cada filé partido em 3 pedaços). Não é para dourar muito o frango, o suficiente para cozinhar. “Não queremos o recheio com frango escuro”. Acrescente sal, pimenta e tomate.
Coloque 500 ml de água e cozinhe na pressão por 15 minutos.
Enquanto isso, prepare a sua massa:
Preaqueça o forno a 200ºC.
Em um bowl, coloque os 100g manteiga (tem que estar amolecida), 2 gemas, ½ xícara de leite e sal. Vá acrescentando a farinha (1 e ½ xícara de farinha) e mexendo com AS PONTAS DOS DEDOS.
Ela frisou muito a importância de se fazer essa massa assim, porque se colocar “a mãozona” estraga tudo. Mexa até a massa ficar homogênea como na foto.
Volte para o seu recheio:
Ao final dos 15 minutos, o frango tem que estar bem molinho. Dissolva as 6 colheres de sopa cheias de farinha de trigo em 1 xícara de leite. Despeje na panela. Vá desmanchando o frango com a colher e mexendo bem até engrossar (uns 5 minutos). Finalize com o creme de leite.
Agora vamos abrir a massa:
Você vai dividir a sua massa em dois pedaços: o primeiro um pouco maior (o que vai por baixo) e o segundo um pouco menor (o que vai por cima). Abra um saco em uma superfície limpa (usamos um desses de guardar comida). Polvilhe farinha. Coloque a massa, mais um polvilhado de farinha, e um novo saco por cima. Abra a massa com o rolo. Usamos aqui essa forma de 26 cm de diâmetro.
Tire o plástico de baixo, coloque a massa na assadeira e molde. Retire o plástico de cima. Importante: a massa de baixo tem que sobrar na forma, como na foto.
Em seguida, coloque o recheio. Atenção: o recheio já tem que estar frio. Se não tiver tempo de esperar, esfrie a panela em água fria na pia (minha avó nunca deixa esfriar sozinho, paciência não é o forte da família).
Depois, coloque as azeitonas pretas por cima e finalize com o catupiry.
Agora, coloque a massa de cima e vá fechando as bordas com os dedos. Tire o plástico e limpe as sobras.
Pincele uma gema por cima e coloque para assar no forno preaquecido a 200ºC por 30 minutos.
Tire quando estiver douradinha por fora.